Fratura do Tálus: sintomas, causas e tratamento

A fratura do tálus é uma lesão grave e relativamente rara, mas que pode ter grande impacto na mobilidade e na qualidade de vida do paciente. O tálus é um osso essencial que conecta o pé à perna, formando a articulação do tornozelo, além de participar dos movimentos laterais do pé.

Esse osso suporta todo o peso transmitido da perna para o pé e está coberto, em grande parte, por cartilagem. Por isso, uma fratura no tálus pode prejudicar de forma significativa o movimento, gerar dores intensas e, quando não tratada corretamente, causar complicações sérias, como artrose ou até necrose óssea.

O que é o tálus e qual sua função?

O tálus é um dos ossos mais importantes do pé e do tornozelo. Ele está localizado na parte superior do pé, logo abaixo da tíbia e da fíbula (ossos da perna), formando a articulação do tornozelo e participando dos movimentos de flexão, extensão e estabilidade lateral do pé.

Ele tem uma característica única: mais de 60% da sua superfície é coberta por cartilagem, permitindo o deslizamento suave entre os ossos. Isso também significa que ele tem baixo suprimento sanguíneo, o que torna as fraturas do tálus mais preocupantes em termos de cicatrização e risco de complicações como a necrose óssea (morte do osso por falta de irrigação).

O tálus suporta a transferência de peso do corpo, transmitindo a carga da perna para o pé. Além disso, é responsável por permitir os movimentos de subida e descida do pé (flexão e extensão) e movimentos laterais, fundamentais para a locomoção, equilíbrio e estabilidade.

Quando ocorre uma fratura no tálus, a função articular e de suporte desse osso é comprometida, podendo afetar gravemente a mobilidade e gerar dores intensas.

Raio-x mostrando os ossos do pé e tornozelo: tálus, navicular, calcâneo e tíbia.

Imagem radiográfica destacando os ossos do pé e tornozelo: tálus, navicular, calcâneo e tíbia.

Tipos de fratura do tálus

Existem diferentes tipos de fratura do tálus, que variam de acordo com a localização e o padrão da lesão. Conhecer esses tipos é fundamental para definir o melhor tratamento e entender o prognóstico.

1. Fratura do colo do tálus

É a mais comum, representando cerca de 50% das fraturas desse osso. Acontece na região que conecta o corpo do tálus à cabeça. Geralmente está associada a traumas de alta energia, como acidentes de carro ou quedas de altura.

2. Fratura do corpo do tálus

Acontece na parte central do osso, que faz articulação direta com a tíbia, fíbula e calcâneo. É uma fratura grave, pois afeta diretamente a articulação do tornozelo e da parte inferior do pé (subtalar).

3. Fratura da cabeça do tálus

É mais rara e ocorre na parte anterior do tálus, que articula com o osso navicular. Costuma acontecer em traumas com movimentos forçados do pé.

4. Fratura dos processos do tálus

São fraturas menores, mas que podem causar dor intensa e limitações importantes se não forem diagnosticadas. Podem acometer:

  • Processo lateral: fratura comum em entorses graves do tornozelo;
  • Processo posterior: pode ser confundida com tendinites ou outras dores locais;
  • Processo medial: mais rara, mas também associada a entorses e traumas localizados.

Classificação de Hawkins

As fraturas do colo do tálus são classificadas de acordo com a Classificação de Hawkins, que avalia o deslocamento da fratura e o risco de necrose:

  • Tipo I: fratura sem deslocamento – menor risco de necrose;
  • Tipo II: fratura com deslocamento e subluxação da articulação subtalar;
  • Tipo III: fratura com deslocamento da articulação subtalar e do tornozelo – alto risco de necrose;
  • Tipo IV: fratura grave com deslocamento das articulações subtalar, tornozelo e talonavicular – risco máximo de necrose.
Raio-x com destaque para as partes do tálus: cabeça, colo e corpo.

Divisão anatômica do osso tálus: cabeça, colo e corpo.

Causas e sintomas da fratura do tálus

Principais causas

A fratura do tálus geralmente ocorre em situações de trauma de alta energia, quando há uma força muito intensa aplicada sobre o pé e tornozelo.

Podem ocorrer isoladamente ou estar associadas a outras, como fratura do tornozelo, dependendo da gravidade do trauma.

As causas mais comuns incluem:

  • Acidentes de carro: especialmente quando o pé está apoiado no pedal no momento da colisão, gerando forte compressão no tornozelo;
  • Quedas de altura: onde o impacto do peso corporal é transmitido diretamente para o tornozelo e pé;
  • Acidentes esportivos: como lesões em esportes de alto impacto ou manobras mal executadas;
  • Entorses muito graves: podem gerar fraturas dos processos do tálus, especialmente o processo lateral ou posterior.

Sintomas mais comuns

Os sintomas da fratura do tálus costumam ser intensos e imediatos após o trauma. Entre os principais sinais estão:

  • Dor intensa no tornozelo e na parte superior do pé;
  • Inchaço importante na região do tornozelo e do dorso do pé;
  • Dificuldade ou incapacidade total de apoiar o pé no chão;
  • Sensação de estalo ou ruptura no momento da lesão;
  • Hematomas, vermelhidão e aumento de temperatura local;
  • Em casos mais graves, pode haver deformidade visível do tornozelo ou do pé.

Como é feito o diagnóstico da fratura do tálus?

O diagnóstico da fratura do tálus deve ser feito por um ortopedista especialista em pé e tornozelo, por meio de uma avaliação clínica detalhada e exames de imagem.

Avaliação clínica

O médico realiza:

  • Investigação do histórico do trauma: como aconteceu, tipo de impacto e intensidade;
  • Exame físico: procurando sinais como dor localizada, inchaço, hematomas, deformidade e limitação total ou parcial dos movimentos do tornozelo e do pé.

Em fraturas menos evidentes, como as dos processos lateral e posterior, é comum que sejam confundidas inicialmente com uma entorse de tornozelo. Por isso, exames de imagem são fundamentais.

Exames de imagem

  • Radiografia (Raio-X): é o primeiro exame solicitado. Permite visualizar fraturas maiores e desalinhamentos;
  • Tomografia Computadorizada (TC): essencial para avaliar detalhes da fratura, especialmente nos casos que envolvem a articulação e nos traços complexos. É o padrão ouro para planejamento cirúrgico;
  • Ressonância Magnética (RM): indicada em casos de suspeita de necrose, lesões ocultas ou avaliação de tecidos moles e cartilagem.

Por que o diagnóstico preciso é fundamental?

O tálus é um osso com características anatômicas e vasculares especiais. Um diagnóstico preciso é essencial não apenas para tratar a fratura em si, mas também para:

  • Evitar complicações como necrose óssea (morte do osso por falta de irrigação);
  • Reduzir o risco de artrose nas articulações do tornozelo e subtalar;
  • Garantir o alinhamento correto do pé e tornozelo para preservação da mobilidade e da função.

Tratamento da fratura do tálus

O tratamento da fratura do tálus depende diretamente do tipo da fratura, grau de deslocamento e comprometimento das articulações. O objetivo principal é restabelecer o alinhamento correto do osso e preservar a função das articulações, além de reduzir o risco de complicações como necrose ou artrose.

Quando é possível o tratamento conservador?

Em casos de fratura sem deslocamento (como as fraturas do colo do tálus tipo Hawkins I ou pequenas fraturas dos processos), o tratamento pode ser feito de forma conservadora, com:

  • Imobilização: uso de bota ortopédica ou gesso, geralmente por um período de 6 a 8 semanas. Preferencialmente bota ortopédica removível, para permitir mobilidade precoce;
  • Proibição de carga no membro afetado: o paciente não deve apoiar o pé no chão durante o período inicial;
  • Fisioterapia: indicada após o período de imobilização, para recuperar força, mobilidade e função articular.

Quando é necessária a cirurgia?

A cirurgia é indicada na maioria dos casos, especialmente quando:

  • Existe deslocamento dos fragmentos ósseos;
  • instabilidade articular;
  • Existem fraturas do corpo do tálus, fraturas do colo com deslocamento (Hawkins II, III e IV) ou lesões associadas.

A cirurgia é realizada por meio de redução aberta com fixação interna (RAFI), utilizando parafusos, placas e, em alguns casos, mini-implantes específicos. O objetivo é restabelecer o alinhamento perfeito do osso e permitir que ele cicatrize na posição correta.

Cuidados pós-operatórios

  • Imobilização: após a cirurgia, é necessário manter o pé imobilizado por algumas semanas, evitando a carga, mas permitindo a mobilidade articular;
  • Sem carga no pé: o paciente deve evitar apoiar o peso sobre o membro operado durante, geralmente, de 6 a 8 semanas;
  • Acompanhamento com exames: radiografias e, em alguns casos, tomografias de controle para monitorar a consolidação óssea;
  • Início da fisioterapia: após liberação médica, para recuperar força muscular, amplitude de movimento e equilíbrio.
Tomografia do pé e tornozelo mostrando fratura no colo do tálus.

Tomografia evidenciando fratura no colo do tálus.

Complicações da fratura do tálus

Por ser um osso com baixa vascularização e com grande participação nas articulações do tornozelo e do pé, a fratura do tálus apresenta um risco elevado de complicações, especialmente nos casos mais graves ou quando não tratada corretamente.

1. Necrose avascular (osteonecrose)

É a complicação mais temida. Ocorre quando há interrupção do suprimento sanguíneo para o osso, levando à morte de parte do tálus. Isso pode provocar colapso ósseo, deformidades e, consequentemente, artrose precoce.

O risco de necrose é maior nas fraturas deslocadas, especialmente nas classificadas como Hawkins III e IV.

2. Artrose no tornozelo e na articulação subtalar

Mesmo com o tratamento adequado, é possível que a fratura leve a um desgaste precoce das articulações envolvidas, principalmente se houve alteração no alinhamento ou lesões na cartilagem.

Isso pode gerar dor crônica, rigidez, limitação de movimentos e, em alguns casos, necessidade de procedimentos futuros, como cirurgias para alívio da dor ou até artrodeses (fusão óssea) em casos extremos.

3. Pseudartrose (não consolidação)

É quando a fratura não cicatriza corretamente, levando a instabilidade, dor persistente e, frequentemente, necessidade de nova intervenção cirúrgica.

4. Rigidez articular e perda de mobilidade

O longo período de imobilização, somado às alterações na articulação durante o processo de cicatrização, pode resultar em perda de mobilidade no tornozelo e no pé. A rigidez articular também pode ser agravada quando há histórico prévio de problemas como  tendinite de Aquiles ou outras alterações. A fisioterapia tem papel fundamental na prevenção e no controle desse quadro.

Como é a recuperação da fratura do tálus?

A recuperação da fratura do tálus costuma ser longa e exige disciplina no pós-operatório. O tempo de consolidação óssea é, em média, de 8 a 12 semanas, mas o processo completo de reabilitação pode se estender por vários meses.

Fases da recuperação

  • 1. Imobilização e sem carga: nas primeiras 6 a 8 semanas, o paciente permanece com o pé imobilizado, sem apoiar peso no membro afetado.
  • 2. Controle por exames: radiografias e tomografias periódicas monitoram a consolidação óssea e detectam precocemente complicações como necrose ou desalinhamento.
  • 3. Retorno progressivo da carga: após liberação médica, inicia-se a retomada do apoio no pé, de forma gradual, com auxílio de muletas e, se necessário, bota ortopédica.
  • 4. Fisioterapia: essencial para recuperar amplitude de movimento, força muscular, equilíbrio e prevenir rigidez articular.
  • 5. Retorno às atividades: atividades físicas de baixo impacto costumam ser liberadas entre 4 e 6 meses. Esportes de alto impacto podem exigir mais tempo, de 6 meses a 1 ano, dependendo da gravidade da fratura e da resposta do paciente.

Prognóstico

O prognóstico da fratura do tálus varia conforme:

  • O tipo de fratura;
  • Se houve ou não deslocamento dos fragmentos;
  • Presença ou não de necrose óssea;
  • Qualidade da redução cirúrgica e da consolidação óssea;
  • Comprometimento das articulações;
  • Engajamento do paciente na fisioterapia e no pós-operatório.

Mesmo nos casos bem conduzidos, pode haver alguma limitação na mobilidade do tornozelo e do pé, principalmente se houver desenvolvimento de artrose ou sequelas da cicatrização óssea.

Por isso, o acompanhamento com um ortopedista especialista em pé e tornozelo é fundamental tanto no tratamento quanto no acompanhamento a médio e longo prazo.

Fontes relevantes:

FAQ – Perguntas Frequentes

O que é o tálus?

O tálus é um osso localizado na parte superior do pé, responsável por conectar o tornozelo ao pé e transmitir o peso da perna para o pé. Ele participa dos movimentos do tornozelo e das articulações do pé.

Fratura do tálus é grave?

Sim. É uma fratura considerada grave porque pode comprometer a articulação do tornozelo, afetar a mobilidade e apresentar risco de complicações como necrose óssea e artrose.

É necessário fazer cirurgia para fratura do tálus?

Na maioria dos casos, sim — especialmente se houver deslocamento dos fragmentos ósseos. A cirurgia busca restabelecer o alinhamento correto do osso para garantir uma boa cicatrização e preservar a função do tornozelo.

Quanto tempo leva para consolidar uma fratura do tálus?

O tempo médio de consolidação óssea é de 8 a 12 semanas. No entanto, o processo completo de recuperação, incluindo fisioterapia e retorno às atividades, pode levar de 4 a 12 meses, dependendo da gravidade da lesão.

Quais as sequelas mais comuns após uma fratura do tálus?

As principais sequelas incluem limitação da mobilidade do tornozelo e pé, desenvolvimento de artrose nas articulações envolvidas e, em casos mais graves, necrose óssea (morte de parte do osso por falta de circulação sanguínea).

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